おくりびと - Okubiritu
A Partida é um filme belíssimo e imperdível.
Sem querer fazer uma resenha com abordagem de um crítico profissional, recomendo-o para todos os amantes da arte cinematográfica. Cheio de mensagens e simbologias intrigantes, com conteúdo profundo o ganhador de Oscar de melhor filme estrangeiro de 2.009, desenvolve um drama onde uma profissão pouco conhecido do publico ocidental é mostrado com rara beleza.
O protagonista central Daigo Kobayashi se candidata ao cargo disponível numa funerária, como o profissional que prepara os corpos dos mortos antes de ser enterrado, ritual conhecido no Japão como nokanshi . Aos poucos, ele mesmo torna-se cada vez mais orgulhoso da função, tomando gosto pelo aperfeiçoamento na arte do nokanshi , agindo como um guardião dos portões que dividem a vida e a morte. Desta forma, trata-se de um sensível retrato de como japoneses e sua tradição tão peculiar são capazes de lidar com a morte, bem como um objeto de reflexão em relação a essa questão tão recorrente no Japão, o embate entre as tradições do país e a modernidade.
A filosofia oriental exala em todos os quadros com belíssimas fotografias, emociona o diálogo entre os personagens em trilhas sonoras graciosas.
Um destes ensinamentos milenar se mostra na sublime troca das pedras –cartas entre Daigo e o pai que ele pouco se lembra.
“Antes da invenção da escrita, os antigos procuravam uma pedra que expressasse seus sentimentos e davam aos entes queridos. Quem recebia a pedra podia ler os sentimentos do outro pelo peso e pela textura. Por exemplo, uma pedra lisa era sinal de coração sereno; uma pedra áspera, de que a pessoa estava em dificuldades”.
Obrigado Rafinha pelo gesto e pelo presente.
Obrigado pela pedra-carta. Uma pedra-carta que interpreto a minha maneira ser um recado do pai Rafael que me diz que está bem, em paz e feliz. A pedra é linda, lisa, macia e de uma cor suave e energizada com feixes do bem. É assim que a recebo. Uma vez mais obrigado.
Conversávamos sobre este filme, numa manhã no jardim da sua casa. Eu, Rafael, finha e o Enzo -filhote de menos de dois anos que remexia na areia apanhando pedrinhas e colocando-as em um vaso ao lado. Cena que voltou a minha mente com o recebimento desta pedra-carta. Rafa na cadeira de roda, debilitado pela cruel doença e nós, como para amainar a dor do momento, falávamos sobre as cenas lindas do filme do diretor Yôjirô Takita, quando Enzo entregou uma pequena pedra ao finha - era lisa, arredondada que mostrava exatamente como diz a história antiga japonesa - um coração sereno.